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São sócias, amigas ou inimigas?

Uma característica da pequena empresa é a presença constante dos sócios na operação do negócio.  Grandes empresas costumam ter CEOs , CFOs,  e os sócios aparecem para as reuniões de Conselho. Sabemos que a simples presença dos donos já muda a dinâmica e a cultura da empresa  – para o Bem e para o Mal.    Imagine quando esses sócios são mulheres e atuam como executivas, ou seja, estão na operação e no dia a dia da empresa. 

A presença constante “das donas”, aliada à  intensidade e à energia e paixão de mulheres empreendedoras, tudo isso somado à complexidade do relacionamento entre mulheres,  pode resultar em uma combinação extremamente desafiadora.

E ainda temos de considerar um  outro fato:  as mulheres não têm ainda muita referência ou modelos, ou seja, provavelmente suas mães e avós não foram líderes.  Segundo o Núcleo de Direito e Gênero da Escola de Direito da FGV/SP, as mulheres representam 45% da força de trabalho no Brasil, mas até o final de 2011, só 7.8% ocupava cargos de diretoria.   Nosso histórico é recente e o universo é pequeno.

Com todas essas especificidades, uma sociedade entre mulheres pode ser desastrosa, ou extremamente enriquecedora.  Não há fórmulas de sucesso, mas há alguns aspectos que podem ser observados antes ou durante o estabelecimento de uma sociedade:

a)  Se você compete com sua sócia, mesmo que sutilmente, entenda a razão e procure eliminar o sentimento.  Você pode tomar decisões erradas para a empresa, só porque é mais persuasiva. Você pode cometer erros de liderança só porque quer ser mais amada, e por aí vai.   E você pode não torcer pelo sucesso individual dela, o que é péssimo.  Como em um casamento, esta parceria tem de ter torcida, cumplicidade e admiração.  

b)  Vocês precisam entender quais são os talentos de cada sócia e como a empresa de vocês pode se beneficiar dessa complementaridade. Se forem muito amigas, compreender que é impossível fazer tudo junto ou gastar diariamente duas horas falando dos problemas com o marido, com o filho etc. Cada uma terá de cuidar de determinados aspectos da empresa e vocês vão se reunir só quando necessário. Vocês são provavelmente as profissionais mais bem pagas da empresa – não dá para pagar por duas e ter o serviço de uma, só porque vocês querem visitar o cliente juntas, por exemplo.

c)  É fundamental estabelecer regras muito claras sobre retiradas mensais e carga horária semanal. A principal causa das sociedades que terminam ainda está nestes pontos. Combinar qual será o pro labore, o papel de cada uma e quantas horas aproximadamente ambas consideram razoável trabalhar para o negócio – preferencialmente considerando o estilo e rotina de cada uma, mas sem sobrecarregar uma única sócia. Uma hora isso tudo vem à tona e aí, acabou.

d)  Feedback tem sido supervalorizado pelo mundo corporativo. Em relacionamentos intensos e longos, a conclusão é que não se deve falar tudo o que incomoda, todo o tempo, em nome da “honestidade e transparência”.  Novamente, é como casamento: ninguém aguenta uma mulher que reclama da toalha molhada, do sapato jogado, do dinheiro, do comportamento com a mãe dela…  Relacionamentos requerem boa dose de aceitação, perdão, bom humor e feedback – mas só para o que for relevante. Neste caso, relevante para o negócio.

e)  Os anos vão passando e as estórias de vida se entrelaçam às estórias da empresa.  Um filho nasce e requer a ausência de uma sócia. Uma perda, um sofrimento, uma viagem bacana e imperdível.  Muita flexibilidade, parceria e capacidade de criar condições para que a outra desempenhe outros papéis em alguns momentos, com a tranquilidade de saber que a empresa está sendo administrada pela sócia que fica.

f)   Sócias não são almas-gêmeas. Uma pode gostar de pagode e a outra de música clássica. Uma pode gostar de palco e a outra de camarim. Todas as diferenças que são irrelevantes para o negócio devem ser consideradas como uma oportunidade para descobrir um mundo diferente, bem próximo do seu. Entre se quiser, e nunca julgue, pois estas pequenas críticas (verbalizadas ou não) vão trazendo uma desarmonia que vocês duas sentirão, mas não saberão dizer de onde vieram. E as diferenças relevantes para o negócio são a força de vocês: complementem-se.

Finalmente, o mais importante:  os valores precisam ser os mesmos.  Se não há uma identificação de missão de vida, tudo vai se desalinhar em algum momento.  Ambas precisam querer ganhar muito dinheiro, ou montar uma empresa bacana para se trabalhar, ou construir a melhor empresa do segmento, ou expandir para o Brasil.  Difícil quando o sonho é de uma só. Fácil quando é das duas, porque haverá cumplicidade e ajuda mútua.  Quando há o alinhamento de missão,  as duas estão na mesma estrada – e aí fica mais fácil dar a mão nos tropeços ou ajustarem o ritmo para correrem mais rápido.  

Fonte: Revista Papelaria e Negócios e Rosangela Souza



Rosangela Souza é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas e ProfCerto.Graduada em Letras e Tradução/Interpretação pela Unibero, Business English na Philadelphia, USA.
Especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e aluna do Pós-MBA da FIA/USP. Desenvolveu projetos acadêmicos sobre segmento de idiomas, planejamento estratégico e indicadores de desempenho para MPMEs. Colunista do portal da Catho Carreira & Sucesso.